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sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

TEXTO INTERESSANTE

O ESTADO de SÃO PAULO

11 de fevereiro de 2013 | 11h 04

Marco Antonio Villa


O Brasil é um país fantástico. Nulidades são transformadas em gênios
da noite para o dia. Uma eficaz máquina de propaganda faz milagres.
Temos ao longo da nossa História diversos exemplos. O mais recente é
Dilma Rousseff.

Surgiu no mundo político brasileiro há uma década. Durante o regime
militar militou em grupos de luta armada, mas não se destacou entre as
lideranças. Fez política no Rio Grande do Sul exercendo funções pouco
expressivas. Tentou fazer pós-graduação em Economia na Unicamp, mas
acabou fracassando, não conseguiu sequer fazer um simples exame de
qualificação de mestrado. Mesmo assim, durante anos foi apresentada
como "doutora" em Economia. Quis-se aventurar no mundo de negócios,
mas também malogrou. Abriu em Porto Alegre uma lojinha de mercadorias
populares, conhecidas como "de 1,99". Não deu certo. Teve logo de
fechar as portas.

Caminharia para a obscuridade se vivesse num país politicamente sério.
Porém, para sorte dela, nasceu no Brasil. E depois de tantos fracassos
acabou premiada: virou ministra de Minas e Energia. Lula disse que
ficou impressionado porque numa reunião ela compareceu munida de um
laptop. Ainda mais: apresentou um enorme volume de dados que, apesar
de incompreensíveis, impressionaram favoravelmente o presidente
eleito.

Foi nesse cenário, digno de O Homem que Sabia Javanês, que Dilma
passou pouco mais de dois anos no Ministério de Minas e Energia.
Deixou como marca um absoluto vazio. Nada fez digno de registro. Mas
novamente foi promovida. Chegou à chefia da Casa Civil após a queda de
José Dirceu, abatido pelo escândalo do mensalão. Cabe novamente a
pergunta: por quê? Para o projeto continuísta do PT a figura anódina
de Dilma Rousseff caiu como uma luva. Mesmo não deixando em um
quinquênio uma marca administrativa - um projeto, uma ideia -, foi
alçada a sucessora de Lula.

Nesse momento, quando foi definida como a futura ocupante da cadeira
presidencial, é que foi desenhado o figurino de gestora eficiente, de
profunda conhecedora de economia e do Brasil, de uma técnica exemplar,
durona, implacável e desinteressada de política. Como deveria ser uma
presidente - a primeira - no imaginário popular.

Deve ser reconhecido que os petistas são eficientes. A tarefa foi
dura, muito dura. Dilma passou por uma cirurgia plástica, considerada
essencial para, como disseram à época, dar um ar mais sereno e
simpático à então candidata. Foi transformada em "mãe do PAC".
Acompanhou Lula por todo o País. Para ela - e só para ela - a campanha
eleitoral começou em 2008. Cada ato do governo foi motivo para um
evento público, sempre transformado em comício e com ampla cobertura
da imprensa. Seu criador foi apresentando homeopaticamente as
qualidades da criatura ao eleitorado. Mas a enorme dificuldade de
comunicação de Dilma acabou obrigando o criador a ser o seu tradutor,
falando em nome dela - e violando abertamente a legislação eleitoral.

Com base numa ampla aliança eleitoral e no uso descarado da máquina
governamental, venceu a eleição. Foi recebida com enorme boa vontade
pela imprensa. A fábula da gestora eficiente, da administradora
cuidadosa e da chefe implacável durante meses foi sendo repetida. Seu
figurino recebeu o reforço, mais que necessário, de combatente da
corrupção. Também, pudera: não há na História republicana nenhum caso
de um presidente que em dois anos de mandato tenha sido obrigado a
demitir tantos ministros acusados de atos lesivos ao interesse
público.

Com o esgotamento do modelo de desenvolvimento criado no final do
século 20 e um quadro econômico internacional extremamente complexo, a
presidente teve de começar a viver no mundo real. E aí a figuração
começou a mostrar suas fraquezas. O crescimento do produto interno
bruto (PIB) de 7,5% de 2010, que foi um componente importante para a
vitória eleitoral, logo não passou de uma recordação.
Independentemente da ilusão do índice (em 2009 o crescimento foi
negativo: -0,7%), apesar de todos os artifícios utilizados, em 2011 o
crescimento foi de apenas 2,7%. Mas para piorar, tudo indica que em
2012 não tenha passado de 1%. Foi o pior biênio dos tempos
contemporâneos, só ficando à frente, na América do Sul, do Paraguai. A
desindustrialização aprofundou-se de tal forma que em 2012 o setor
cresceu negativamente: -2,1%. O saldo da balança comercial caiu 35% em
relação à 2011, o pior desempenho dos últimos dez anos, e em janeiro
deste ano teve o maior saldo negativo em 24 anos. A inflação dá claros
sinais de que está fugindo do controle. E a dívida pública federal
disparou: chegou a R$ 2 trilhões.

As promessas eleitorais de 2010 nunca se materializaram. Os milhares
de creches desmancharam-se no ar. O programa habitacional ficou
notabilizado por acusações de corrupção. As obras de infraestrutura
estão atrasadas e superfaturadas. Os bancos e empresas estatais
transformaram-se em meros instrumentos políticos - a Petrobrás é a
mais afetada pelo desvario dilmista.

Não há contabilidade criativa suficiente para esconder o óbvio: o
governo Dilma Rousseff é um fracasso. E pusilânime: abre o baú e
recoloca velhas propostas como novos instrumentos de política
econômica. É uma confissão de que não consegue pensar com
originalidade. Nesse ritmo, logo veremos o ministro Guido Mantega
anunciar uma grande novidade para combater o aumento dos preços dos
alimentos: a criação da Sunab.

Ah, o Brasil ainda vai cumprir seu ideal: ser uma grande Bruzundanga.
Lá, na cruel ironia de Lima Barreto, a Constituição estabelecia que o
presidente "devia unicamente saber ler e escrever; que nunca tivesse
mostrado ou procurado mostrar que tinha alguma inteligência; que não
tivesse vontade própria; que fosse, enfim, de uma mediocridade total".

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